Deixai secar primeiro
Contam que Carlyle, o célebre historiador escocês, quando
ainda era muito moço, teve uma questão bastante grave com um dos seus
companheiros. Um dia, sentindo-se insultado, declarou que ia imediatamente
exigir satisfações daquele que o havia ofendido.
Um velho professor, informado do caso, aproximou-se de
Carlyle e disse-lhe:
Meu caro amigo. Tenho longa experiência de vida e
conheço as consequências tristes dos atos impetuosos.
Um insulto é como a lama que cai em nossa blusa. A
lama pode ser retirada facilmente, com uma simples escova, quando já está seca.
Deixe secar primeiro. Não seja apressado. Espere até
que se acalme, e verá como tudo será facilmente resolvido.
Carlyle aceitou o conselho do professor, e o resultado foi
tão feliz que, no dia seguinte, o colega que o insultara veio lhe pedir
desculpas.
Malba Tahan, nesta rica passagem, vem nos dizer que, dada a
grande diversidade de temperamentos e caracteres humanos, não nos é possível
viver em paz com o próximo, sem refrearmos a ira, e insistirmos na prática da
mansidão.
Nenhuma resolução sadia pode ser tomada com ímpeto.
Às vezes, numa ação impensada, numa reação violenta, podemos
comprometer séculos e séculos de nossas existências.
Alguns segundos de invigilância, permitindo que um pequeno
ato de vingança se externe, pode gerar um compromisso imenso para o futuro,
através da Lei de causa e efeito, que prevê a colheita obrigatória de tudo
aquilo que livremente plantamos.
Vale a pena esperar. Vale a pena o esforço de conter um
impulso naquele momento em que o nervosismo procura reinar.
Contar até dez. Tomar um banho frio. Fazer uma oração,
pedindo auxílio a Deus. Parar tudo que estamos fazendo e refletir para não
reagir sem pensar.
Vale a pena o esforço. Vale a pena ter calma.
Se algum dia você for vítima de uma violência, não revide.
Quando receber injúrias, não procure se defender atacando.
Se for caluniado, não acumule ódio e ressentimento em sua
alma.
Sabemos que é difícil compreender, perdoar, ainda, mas precisamos
começar, precisamos desenvolver esta virtude em nossos corações.
Os maiores beneficiados com isso seremos nós mesmos, pois
deixaremos de ser depósitos de sentimentos impuros, desequilibrados, que
insistem em nos fazer infelizes.
Deixe secar primeiro.
* * *
A Terra recebeu, na figura de um homem muito simples, um
grande defensor da não-violência.
Mahatma Gandhi, o líder religioso indiano que comandou
centenas de hindus, foi a lição viva da desnecessidade da violência para
resolver problemas.
Eis aqui um sábio pensamento seu:
Não-violência e covardia são termos contraditórios. A
não-violência é a maior das virtudes, enquanto a covardia é o maior dos vícios.
A não-violência provém do amor, a covardia do ódio.
A não-violência sempre sofre, enquanto a covardia
sempre gera o sofrimento.
A perfeita não-violência é a maior das bravuras.
Sua conduta não é jamais desmoralizante, enquanto a
forma da covardia se conduzir sempre o é.
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